O Retorno
H� v�rios anos, fui companheiro de viagem de um anci�o que sentou ao meu lado, e sem que perguntasse, contou-me, depois de v�rias tentativas sem sucesso, sobre sua felicidade por estar voltando para sua cidade natal por ter sido jubilado no emprego. Contemplei as l�grimas no seu rosto, o brilho nos seus olhos, empolga��o ao falar das dificuldades que enfrentou ao longo do tempo e a tristeza de estar voltando num momento em que suas for�as j� n�o eram as mesmas de sua mocidade.
Muito tempo se passou depois daquela conversa. As �rvores, os postes, as casas, os campos, o horizonte, tudo corria em busca de novos sonhos. Cada momento que passava, sentia que estava mais perto de chegar no meu t�o esperado destino. Olhando para o c�u, podia contemplar a lua e as estrelas, essas sim, �s vezes � esquerda ou � direita, n�o importava, a verdade era que elas eram fi�is companheiras pela noite, pois estavam sempre comigo pela estrada afora, n�o importando a imperfei��o da situa��o, n�o importando as dificuldades da vida naquela ocasi�o. A vontade de chegar ao meu objetivo aumentava � medida que o tempo avan�ava. Fui tomado por um sentimento nost�lgico, e o passado tentava sobrepor o ent�o presente. Na mente, lugares, fam�lia e amigos pareciam estar congelados no tempo, uma esperan�a de um reencontro m�gico, seria bom de mais, e �s vezes somos tra�dos pela realidade. De repente, os lugares come�aram parecer conhecidos, o cora��o acelerou na mesma velocidade dos motores e eu estava a alguns passos do final daquela jornada.
- Pai, m�e, sou eu! Seu filho que estava longe, que morava t�o distante, que os senhores sempre pediram a Deus o seu retorno!
Onde est�o voc�s? N�o consigo v�-los! Passei v�rios anos sonhando com esse momento!
- Hei! Estou aqui, venham ver, sou eu mesmo! Onde est�o meus amigos do col�gio?
Finalmente, fui ao espelho e vi a dura realidade estampada no rosto. A quantidade e a cor dos cabelos j� n�o eram as mesmas, a pele estava com marcas da vida, porque n�o falar dos calos nas m�os. A for�a j� n�o era a mesma da juventude, ali�s, j� n�o me chamavam de jovem, vi que tudo se passou, a vida continuou, todos viveram paralelamente, muitos se casaram, alguns se foram, tive a estranha sensa��o que cheguei atrasado ou tarde de mais. A �nsia do retorno cegou-me ao longo dos anos. Hei, a culpa n�o foi minha, tamb�m vivi a vida, por�m em lugares diferentes. Estas l�grimas n�o s�o � toa, mas uma forma de pedir perd�o, voltei, eu amo voc�s! Voltei sim, para minha cidade querida, para o meu povo, para os meus poucos amigos e principalmente para aqueles que restaram da minha humilde fam�lia.