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..de MARCO ANTONIO, VILLA - HISTORIADOR; � PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE S�O CARLOS (UFSCAR)
"Em 1992 muitos imaginavam que o Brasil poderia ser passado a limpo. Ocorreram in�meros atos p�blicos, passeatas; manifestos foram redigidos exigindo �tica na pol�tica. At� surgiu uma "gera��o de caras-pintadas". Parecia - s� parecia - que, ap�s a promulga��o da Constitui��o de 1988 e a primeira elei��o direta presidencial - depois de 29 anos -, a tr�ade estava completa com a queda do presidente acusado de s�rios desvios antirrepublicanos. O novo Brasil estaria nascendo e a corrup��o, vista como intr�nseca � pol�tica brasileira, seria considerada algo do passado.
N�o � necess�rio fazer nenhum balan�o exaustivo para constatar o �bvio. A derrota - de goleada - dos valores �ticos e morais republicanos foi acachapante. Nos �ltimos 20 anos tivemos in�meras CPIs. Ficamos indignados ouvindo depoimentos em Bras�lia com confiss�es p�blicas de corrup��o. Um publicit�rio, Duda Mendon�a, chegou mesmo a confessar - sem que lhe tivesse sido perguntado - na CPMI do Mensal�o que havia recebido numa conta no exterior o pagamento pelos servi�os prestados � campanha do ent�o candidato Luiz In�cio Lula da Silva. A bomb�stica revela��o foi recebida por alguns at� com naturalidade. O que configurava um crime de
responsabilidade, de acordo com a Constitui��o, al�m de outros delitos, n�o gerou, por consequ�ncia, nenhum efeito. E, vale recordar, com a concord�ncia bovina - para lembrar Nelson Rodrigues - da oposi��o.
A aceita��o de que pol�tica � assim mesmo foi levando � desmoraliza��o da democracia e de seus fundamentos. Hoje vivemos um simulacro de democracia. Ningu�m quer falar que o rei est� nu. Democracia virou simplesmente sin�nimo de realiza��o de elei��es, despolitizadas, desinteressadas e com um consider�vel �ndice de absten��o (mesmo com o voto obrigat�rio). Aqui, at� as elei��es acabaram possibilitando expandir a corrup��o.
Na pol�tica tradicional, a bandeira da �tica � empunhada de forma oportunista, de um grupo contra o outro. Na pr�xima CPI os pap�is podem estar invertidos, sem nenhum problema. � um querendo "pegar" o outro. E muitas vezes o feiti�o pode virar contra o feiticeiro.
E as condena��es? Quem est� cumprindo pena? Quem teve os bens, obtidos ilegalmente, confiscados? Nada. O que vale � o espet�culo, e n�o o resultado.
O Brasil conseguiu um verdadeiro milagre: descolou a pol�tica da economia. O Pa�s continua caminhando, com velocidade reduzida, por causa da m� gest�o pol�tica. Mas vai avan�ando. E por iniciativa dos simples cidad�os que desenvolvem seus neg�cios e constroem dignamente sua vida. Depois, muito depois, v�o chegar o Estado e sua burocracia. Aparentemente para ajudar, mas, como de h�bito, para tirar "alguma casquinha", para dizer o m�nimo. E a vida segue.
N�o vai causar admira��o se, em 2032, Dem�stenes Torres for indicado pelo seu partido para fazer parte de uma CPI para apurar den�ncias de corrup��o. � o meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro."
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