Filha pallida da noite,
Nume feroz de inclemencia,
Sem culto nem reverencia,
Nem crentes e nem altar,
A cujos p�s descarnados...
A teus negros p�s, � morte!
S� engeitados da sorte
Ousam frios implorar;
Toma a tua foice aguda,
A arma dos teus furores;
Venho c"roado de flores
Da vida entregar-te a flor;
� um feliz que te implora
Na madrugada da vida,
Uma cabe�a perdida
E perdida por amor.
Era rainha e formosa,
Sobre cem povos reinava,
E tinha uma turba escrava
Dos mais poderosos reis;
Eu era apenas um servo,
Mas amava-a tanto, tanto,
Que nem tinha um desencanto
Nos seus desprezos crueis.
Vivia distante delia
Sem fallar-lhe nem ouvil-a;
S� me vingava em seguil-a
Para a poder contemplar;
Era uma sombra calada
Que occulta for�a levava,
E no caminho a aguardava
Para saudal-a e passar.
Um dia veio ella �s fontes
Ver os trabalhos... n�o pude,
Fraqueou minha virtude,
Cahi-lhe tremendo aos p�s.
Todo o amor que me devora,
� Venus, o intimo peito,
Fallou naquelle respeito,
Fallou naquella mudez.
S� lhe conquistam amores
O hcroe, o bravo, o triumphante;
E que coroa radiante
Tinha eu para offerecer?
Disse uma palavra apenas
Que um mundo inteiro continha:
� Sou um escravo, rainha,
Amo-te e quero morrer.
E a nova Isis que o Egypto
Adora curvo e humilhado
O pobre servo curvado
Olhou languida a sorrir;
Vi Cle�patra, a rainha,
Tremer pallida em meu seio;
Morte, foi-se-me o receio,
Aqui estou, podes ferir.
Vem! que as glorias insensatas
Das convuls�es mais lascivas,
As phantasias mais vivas,
De mais febre e mais ardor,
Toda a ardente ebriedade
Dos seus reaes pensamentos,
Tudo gozei uns momentos
Na minha noite de amor.
Prompto estou para a jornada
Da estancia escura e escondida;
O sangue, o futuro, a vida
Dou-te, � morte, e vou morrer;
Uma gra�a �nica � pe�o
Como ultima esperan�a:
N�o me apagues a lembran�a
Do amor que me fez viver.
Belleza completa e rara
Deram-lhe os numes amigos;
Escolhe dos teus castigos
O que infundir mais terror,
Mas por ella, s� por ella
Seja o meu padecimento,
E tenha o intenso tormento
Na intensidade do amor.
Deixa alimentar teus corvos
Em minhas carnes rasgadas,
Venham rochas despenhadas
Sobre meu corpo rolar,
Mas n�o me tires dos labios
Aquelle nome adorado,
E ao meu olhar encantado
Deixa essa imagem ficar
Posso soffrer os teus golpes
Sem murmurar da senten�a;
A minha ventura � immensa
E foi em ti que eu a achei;
Mas n�o me apagues na fronte
Os sulcos quentes e vivos
Daquelles beijos lascivos
Que j� me fizeram rei.
