As catracas (ou �roletas�) dos �nibus do Recife degradam e constrangem a gente, ofendem a cidadania: Passando por elas, � como se estivessem olhando e tratando a gente como potenciais fraudadores e puladores de roleta. Como se f�ssemos sonegadores de um �vale A , vale B�. O escancarado modelo de catracas � um acinte, � s�ntese emblem�tica de um desrespeito, um atentado cont�nuo que vem de prioridades e de interesses que s�o (digamos assim) ... nem t�o coletivos. Esse �simples� objeto (ou o que ele representa: humilha��o do povo), esse ponto n�o tem sido tocado nem nas coberturas jornal�sticas, nem nas divulga��es oficiais em torno das �mudan�as� nos transportes coletivos. Essas arma��es de metal s�o modifica��es e prolongamentos das hastes originais das roletas. Elas foram implantadas j� faz tempo. N�o vinham com esses aros que hoje chegam a alcan�ar a altura do queixo de uma pessoa de 1,70 m, por exemplo. Nem se estendiam pra baixo at� quase tocar o piso do �nibus, rente ao ch�o. Aquelas catracas tamb�m n�o formavam um conjunto que em muitos �nibus quase envolve a pessoa, num semic�rculo gradeado, um caminho estreito ( � semelhan�a de cercado - uma porteira?...) onde uma pessoa � encurralada e detida num momento, para, num momento seguinte, ser conduzida ao meio do �sal�o� (o corredor do �nibus), e continuando de p�, entre tantos outros, pois os assentos j� est�o ocupados com lota��o al�m da capacidad e indicada numa plaqueta acima do parabrisa). (Claro que aqui nos referimos aos �nibus das linhas que �fazem� a maioria dos nossos bairros). N�o que a lembran�a das catracas de antes sejam uma mera nostalgia do passado, n�o que fossem uma maravilha: As atuais � que s�o bem pior: Em v�rios coletivos, esta �grade� come�a na porta de entrada � da� que �s vezes se forma uma fila j� nos degraus, o motorista , o �chofer�, ali, acelerando e apurando a gente. N�o, estas roletas tamb�m n�o se equiparam �quelas outras dos primeiros �nibus el�tricos: Parecidas com um grande tri�ngulo de pernas abertas e obl�quas que se limitavam a registrar a passagem, constituindo espa�o suficiente para que um menino, ou mesmo um adulto (do tipo f�sico m�dio da gente) pudesse passar por elas de banda, sem que elas girassem. Mais dignamente espa�osas para que crian�as dispensadas de pagar passagem, por idade e tamanho, n�o tivessem que se deitar e rastejar para atravess�-las. Crian�as que aprendem desde cedo que o �natural� da vida � a resigna��o, o abaixamento e essa adapta��o calada at� por for�a do h�bito e da tradi��o. Passar pela catraca � um instante , no m�nimo, de desconforto, que sentimos quando levamos uma bolsa a mais, um embrulho, umasacola; ou se estamos vestidos com mais roupas, ou se o corpo n�o for muito franzino ( um homem de 1,70 que pese 70 kg., por exemplo, � capaz de entender na pele o que isso quer dizer). Ah, essas catracas de hoje... n�o s�o como as de antigamente, n�o s�o modernas, apesar do tempo (que tempo nem sempre significa evolu��o e progresso). E, no entanto, as catracas atuais e seus interesses n�o s�o atingidos: Pelo contr�rio, est�o por a�, soltas, sozinhas, girando ainda mais, m�quinas de contar gente, numa posi��o refor�ada gra�as a um curioso continu�smo que resolveu mexer antes com o que � secund�rio, o menor problema; mas n�o encontrou energias e fluidos para bulir com o que � o Principal. Ou - a�reo ou inocente -, neste ponto n�o meditou tanto assim. (Estas observa��es partem deste internauta que tamb�m faz uso do transporte p�blico. N�o partem por ouvir dizer, nem � daqueles e daquelas que discursam por conveni�ncias em determinadas �pocas). E sabe de uma coisa? Ma�ante � informar que estas s�o percep��es que n�o v�m de um simpatizante ou eleitor do �outro lado�, nem de pessoa vinculada aos kombeiros. Vida de gado nos �nibus do Recife. Ontem e hoje. Povo marcado. Foto: Divulga��o. Humberto Cavalcanti. Recife/PE.