Sonhei-te em gozo absoluto e sem controle,
Fui calafrios nos teus pelos dourados,
Te tive enlouquecida, em cavalgadas
Sem freio, em redemoinhos
De �xtase profundo,
Fui dez mil m�os,
Cem mil l�nguas de fogo,
Fui tempestade ou doce envolvimento
Em tua superf�cie de reentr�ncias e colinas,
Fui crian�a de peito abandonada,
No desamparo, ao teu olhar, envolto em transe,
Fui afogueado centauro, folha carregada
No temporal de um tes�o asfixiante,
Fui teu igual na gargalhada b�bada,
Brinquei, guri de uma inf�ncia ed�nica,
Lado a lado contigo percorrendo,
M�os r�pidas, olhares hipn�ticos,
O �mago fremente, os sexos pulsantes,
Picos e grutas das nossas geografias
Fui dan�arino, palha�o, orador,
Enquanto foste loba, gata em cio, on�a feroz,
Fomos atores no palco dos sal�es
E confidentes na penumbra da luz negra.
Te tive irm�, m�e, puta, amada altiva,
Amiga de folguedos, fatal maga,
Me usando como um rato amedrontado,
Te tive filha meiga, mimada, maliciosa
E fui, em raras noites, sol em meio ao t�dio
Das tuas madrugadas, como foste
O consolo er�tico poss�vel,
Desarmada ternura de empr�stimo,
A realidade delirante dos prazeres
Nos obscuros casar�es da sacanagem.
Em ti vivi a experi�ncia sem esfor�o,
As agruras, o desejo, a acolhida
De todas cores de pele e de cabelo,
Das faces e olhos de formatos
Os mais diversos,
Fui amante
Carente e delicado, fui esperto
Ladr�o de del�cias, enjoado
B�bado, mach�o onipotente,
Fui divertido malandro,
S�bio Vaidoso.
Vivi em ti, na boemia embriagada,
Nos corredores da penumbra,
Em camas mudas,
Mil vidas negadas no sol claro
E por ti, em cada uma que eras,
No calor dos seios fartos, das sedosas coxas ,
De imensas bundas, empinadas,
Frementes e �midas bucetas,
Em jovens rostos,
Em mal�cia mergulhados ,
Em olhos de dona,
Em m�os crispadas
De serva insubmissa ,
Fui carrasco e v�tima,
Carinho e desencontro.
Mas o que fui,
O que vivi nas noites breves,
No mundo alheio do fortuito encontro,
O que n�o alcancei no quotidiano
�Normal� da vida burocr�tica,
O sofrimento ou �xtase fam�licos,
Eu s� vivi gra�as a ti que estavas
Sempre a espera, no ref�gio alcoolizado
Dos deserdados do amor regrado.