Ela n�o sabia, ela tinha se escondido a vida toda para que ningu�m tivesse acesso �quela que julgava tudo o que n�o queria ser. Se transformou, se moldou, se condicionou a tudo o que os outros queriam dela.
Altiva, imponente, autorit�ria, alegre, diziam at� mesmo que tinha sua pr�pria defini��o e categoria. Ela era admirada, cortejada, era mais que isso... ela era temida, ningu�m ousava confront�-la, ela s� se dobrava � quem queria, desejava, mas s� �queles que n�o fossem capazes de ultrapassar a linha invis�vel... ela sabia que poucos poderiam ver, afinal, as pessoas n�o enxergam al�m, elas v�o at� certo ponto, elas n�o v�o al�m, d� trabalho... era um corredor muito escuro a sua alma, e tinha uma porta escrito N�O ULTRAPASSE, ningu�m ultrapassava, ningu�m sabia o que tinha l� dentro, apenas ela...
Era aquela pessoa, naquele quarto, completamente escuro, e ela ficou l�, se acostumou com o escuro, seus olhos se adaptaram, ela ficava ali, sentada, a vida toda abra�ada aos seus pr�prios joelhos, no cantinho escuro, ali ela estava t�o sozinha, e ao mesmo tempo t�o protegida, enquanto a outra dan�ava, se mostrava, ia na frente; a outra a encantava, era tudo o que ela precisava, a outra n�o chorava, apenas se virava e continuava... a outra era sua armadura, sua prote��o, a outra era a parte indestrut�vel dela... essa outra podia ser o que quisesse, essa outra era a vers�o do inferno, e queimava.
A outra tinha, muitas vezes, que ser a puta, mas ela n�o se dobrava, mesmo quando puta se impunha e fazia com que os homens a quisessem, eles a dominavam enquanto ela queria, ela dava prazer, ela n�o precisava de prazer, o prazer era apenas o poder que ela tinha de tirar o prazer, ela sabia que n�o era o suficiente, sabia que n�o a nutria, mas ela precisava continuar, ela n�o podia parar, aquela beb� medrosa e sem gra�a n�o podia sair de onde estava.
Eles diziam tantas coisas, a puta sorria, dizia que era isso mesmo, diziam que iam mostrar o que ela realmente era, uma puta, vadia sem vontades, submissa e escrava �s insanidades do �Dono�.... ela seria exposta, seria humilhada na frente dos amigos para que soubessem quem era ela na verdade, ela n�o se importava, ela se condicionava e aguentar aquilo, at� acontecer ela pensaria em algo.
Mas um dia Ele chegou... Ele foi bem devagar e disse que n�o desistiria, ela dizia �n�o quero�... �n�o posso�... mas Ele a ignorava e foi entrando, n�o teve medo do corredor escuro e nem leu o que tinha na porta, ele entrou e a viu, ela foi para o outro canto, Ele ficou rondando, a acompanhava em cada canto que ela tentava se esconder, se sentou do outro lado da sala, Ele a viu e a quis... enquanto isso a outra, desesperada, tentava fugir, mas a beb� Dele n�o... pela primeira vez ela olhou para algu�m e foi chegando perto e mais perto...
A fortaleza que se fazia de puta ficou sozinha, a vadia estava perdendo as for�as, ela lutava, mas Ele dizia que a beb� Dele ganharia dela, mas elas n�o queriam se confrontar, a puta, a vadia, a cadela na verdade nem existiam, elas apenas eram o que os supostos donos queriam que fosse, e ela se moldava, como um camale�o frente ao perigo, Ele n�o quis saber, ele queria a mocinha do quarto escuro.
A outra foi na frente, o conheceu, tentou se impor, era tudo em v�o, Ele ria dela...
Um dia a outra olhou e viu a mocinha no colo Dele, recebendo carinho, sendo mimada, cuidada, percebeu e sentiu o quanto ela ficava tranquila e em paz naquele colo, ela at� sorria, se iluminava deitada no colo do seu Dono.
Ent�o a puta viu que havia chegado a hora de ir, pq ela perdeu todas as for�as, ela n�o conseguiria mais ser �a puta�, sem carinho, sem amor, sem paix�o, ela n�o conseguiria ser a vadia que fazia tudo e n�o recebia nada e escondia toda a frustra��o que sentia na �mocinha do quarto escuro�, essa por sua vez era boa em guardar desamor, a melhor... mas ela n�o estava mais ali pra isso, agora ela estava ali para Ele, e a puta podia ir embora, a vadia n�o ia conseguir mais interpretar... a cadela n�o tinha mais coleira... todas elas podiam ir embora...
Elas foram desaparecendo, uma a uma e a beb� Dele, a submissa Dele, s� Dele, ficou naquele colo, ela n�o conseguiria mais, n�o conseguiria ser de mais ningu�m.
N�o critico, n�o julgo, n�o aponto o dedo, acho que cada um deve ser como quer, como deseja, como lhe d� prazer, mas quando h� algu�m escondido dentro da alma da gente, aquela pessoa que n�o quer ser a puta ou a vadia ou mesmo a cadela. Ela quer colo, ser cuidada e se sentir em paz, sentir que pode ser ela mesma, acredite, uma hora essa pessoa vai querer sair do quarto escuro. Muitas vezes nos deparamos com a adapta��o, nos deparamos com o condicionamento dos nossos pr�prios sentimentos, o tempo passa e condicion�-los fica cada vez mais f�cil, mas em determinado momento, se encontrar quem te encontre no fundo da alma, isso n�o ser� o suficiente.
Ser puta entre quatro paredes pra alguns � f�cil, pra outros nem tanto... e para algumas submissas isso � imposs�vel, e apesar de alguns criticarem, isso n�o � pecado ou errado, cada um tem um jeito de ser e � necess�rio ser respeitado. Quando a l�grima de uma submissa escorrer no rosto, e seu desejo for deitar no peito do Dono e ali ficar, chame de entrega, quando isso acontecer � pq nenhum outro vai conseguir chegar perto, e caso aconte�a, ela estar� se mutilando, se matando, e em peda�os ela vai querer voltar para o colo que a completa, que a conhece, mesmo com medo ou assustada, isso n�o � pecado, � perigoso sim... se mostrar demais � muito perigoso, mas ser voc� mesmo, �, tamb�m, um sentimento pleno e de valor incalcul�vel.