Era num dia sombrio
Quando um p�ssaro erradio
Veio parar num jardim.
A� fitando uma rosa,
Sua voz triste e saudosa,
P�s-se a improvisar assim.
"� Rosa, � Rosa bonita!
� Sultana favorita
Deste serralho de azul:
Flor que vives num pal�cio,
Como as princesas de L�cio,
Como as filhas de "Stambul.
Como �s feliz! Quanto eu dera
Pela eterna primavera
Que o teu castelo cont�m...
Sob o cristal abrigada,
Tu nem sentes a geada
Que passa raivosa al�m.
Junto �s est�tuas de pedra
Tua vida cresce, medra,
Ao fumo dos narguil�s,
No largo vaso da China
Da porcelana mais fina
Que vem do Imp�rio Chin�s.
O Inverno ladra na rua,
Enquanto adormeces nua
Na estufa at� de manh�.
Por escrava - tens a aragem
O sol - � teu louro pajem.
Tu �s dele - a castel�.
Enquanto que eu desgra�ado,
Pelas chuvas ensopado,
Levo o tempo a viajar,
- Bo�mio da m�dia idade,
Vou do castelo � cidade,
Vou do mosteiro ao solar!
Meu capote roto e pobre
Mal os meus ombros encobre.
Quanto � gorra... tu bem v�s! ...
Ai! meu Deus! se Rosa fora
Como eu zombaria agora
Dos louros dos menestr�is!. . .
Ent�o por entre a folhagem
Ao passarinho selvagem
A rosa assim respondeu:
"Cala-te, bardo dos bosques!
Ai! n�o troques os quiosques
Pela c�pula do c�u.
Tu n�o sabes que del�rios
Sofrem as rosas e os l�rios
Nesta dourada pris�o.
Sem falar com as violetas.
Sem beijar as borboletas,
Sem as auras do sert�o.
Molha-te a fria geada...
Que importa? A loura alvorada
Vir� beijar-te amanh�.
Poeta, romper�s logo,
A cada beijo de fogo,
Na cantilena lou��.
Mas eu?! Nas salas brilhantes
Entre as tran�as deslumbrantes
A virgem me enla�ar�
Depois cad�ver de rosa
A valsa vertiginosa
Por sobre mim rolar�.
Vai, Poeta... Rompe os ares
Cruza a serra, o vale, os mares
Deus ao ch�o n�o te amarrou!
Eu calo-me - tu decantas,
Eu rojo - tu te levantas,
Tu �s livre - escrava eu sou! ...Ant�nio de Castro Alves (1847-1871)