Duas da madrugada,
as palavras ficaram ressoando,
er�tica, er�tica�
Deve haver um erro,
sem ar,
quente, abafado,
derreteu-se algo em mim,
e ficou: � �tica!
� isso.
Vis�o.
Noite quente,
calor, fornalha,
corpo quente,
fogo�
Acendo a luz,
fecho a porta,
lembro do fado:
�de quem eu gosto,
nem �s paredes confesso�;
o an�ncio da TV, chama a aten��o:
� me liga, vai� Liga!
Er�tica�
Sim, vis�o�
Come�o a me despir
lentamente,
solto os cabelos,
eles se espalham
e cobrem as protuber�ncias
de minhas curvas�
Acaricio lentamente meu corpo,
descendo suavemente as m�os,
a carne � firme,
sinto as pernas tr�mulas,
olho no espelho,
gosto do que vejo,
sou uma mulher bonita,
sensual,
firme, gostosa, macia,
lembro outra vez:
�liga, vai� Liga�
O telefone est� perto,
companheiro �nico,
preto,
frio,
mudo,
est�tico�
Ainda espero.
Continuo descendo as m�os
com suavidade,
sinto falta de carinhos,
olho a imagem,
� �tica�
As pessoas n�o se olham,
n�o conhecem seu corpo,
n�o olham a si mesmas,
n�o se amam,
n�o se desejam,
n�o se tocam�
�Eu me amo� Eu me amo
�Tinha uma m�sica assim,
seriam loucos?
Coisa de jovens?
Rock?
N�o.
Amar a si mesmo
� o ponto de partida,
se n�o nos amarmos,
n�o amaremos a mais ningu�m!
Eu amo a muitos�
Em cada um, eu amo alguma coisa;
a voz,
o gosto,
o cheiro,
o pensamento,
o olhar,
as id�ias,
o desafio,
o perigo,
o desejo,
o sexo�
Mas estou s�,
absolutamente s�,
eu, comigo!
Er�tica?
Talvez nos pensamentos,
nas rimas,
na inspira��o,
s� na ponta dos dedos,
digitando freneticamente,
nada mais�
Na verdade, s� �.. �tica!
Vis�o de uma realidade virtual
vis�o de um sonho
que embalo no seio
como um filho que suga
meu leite,
aquela deliciosa sensa��o
de ser sugada,
amada,
comida, esmagada!
Lembran�as�
Gostos, cheiros, fatos,
o passado�
Hoje j� � o passado de amanh�,
ent�o, s� tem eu aqui;
preciso me amar!
Se n�o me amar,
se n�o houver um tico de narcisismo,
chegar� a depress�o,
mulher mal amada,
mulher vencida!
Penso�
Que desperd�cio!
O tempo vai correndo,
eu grito,
meu grito n�o tem eco,
os ventos espalham as p�talas da Rosa,
e o tempo continua veloz,
implac�vel!
Preciso,
sinto que preciso,
dividir, somar,
esse corpo com algu�m,
preciso sentir outras m�os
que n�o as minhas,
tocando minha pele macia,
buscando meus caminhos,
palavras quase inaud�veis
arrancando meus gemidos,
sugando meu sangue�
Jogo os cabelos para tr�s,
acabei de escov�-los,
coloquei a roupa de dormir,
deixo minha imagem
reflexa no espelho,
sou capaz de ver o brilho
das estrelas cintilando nos meus olhos,
na minha pele,
desnudo meu pesco�o
mas nenhum vampiro
entra pelas vidra�as�
Sil�ncio total,
s� a brisa da noite
e os raios da lua
banham meu corpo quase nu,
chega um misto de prazer e sono�
Come�o a dormir e
viajo dentro de mim mesma�
O que encontro?
Minha sombra vagando
pelos espa�os vazios dos caminhos,
solid�o�
Ʌ �tica.
Nada mais.
N�o existe nada,
al�m da imagina��o!
O devaneio adormece
em meus bra�os,
viajo nos sonhos
e encontro meu pr�ncipe,
ele vem da floresta encantada,
cavalga em minha dire��o,
me joga meio sem jeito
no dorso do seu garanh�o,
o galope � forte,
e, no embalo da ilus�o,
adorme�o, s�,
completamente s�!
Quando os raios de sol
entram e me aquecem pela manh�
a cada aurora,
volto � rotina�
Ali adormeceu a poesia
e, agora, acordou a realidade�
Um dia como outro qualquer,
a rotina,
a vida,
a esperan�a,
a solid�o,
a mesma �tica� Er�tica!
Autoria: Janete, Rosa dos Ventos