"Caixa"
Percebi que a caixa não me cabia.
Eu me dobrei, me retorci, tentei me encolher — mas sempre sobrava um pedaço de mim do lado de fora. Um pedaço que precisava de atenção, de carinho, de um olhar que dissesse: "Você existe. Eu te vejo."
Mas eu cobrava. E cobrar amor é como tentar segurar água com os dedos: quanto mais você aperta, mais ela escorre.
Fui me tornando uma pessoa chata — aquela que lembra, que pergunta, que espera. A que anota os silêncios e contabiliza os "depois". A que, no meio da noite, vira pro lado e pergunta: "Você ainda me quer?"
Até que entendi: se você precisa cobrar, seu lugar não é ali.
Amor não é dÃvida. Não é favor. Não é migalha que você junta no chão, implorando por mais.
É entrega que vem da vontade. É presença que não some no meio da frase. É alguém que chega e diz, sem que você precise perguntar: "Aqui estou."
Então, eu saio da caixa.
E, pela primeira vez, respiro.
@aurorazanco_escritora
Vida de Mulher